sábado, 20 de março de 2010

Ephemera

Efémero é sinónimo de transitório, algo que foi criado para durar pouco, para cumprir o seu papel e ser destruído, esquecido ou posto de lado. 
Cartas, postais, fotografias, bilhetes de viagens, etiquetas, marcadores de livros, todos esses bocadinhos de papel tiveram importantes papéis na nossa vida, mas muitos deles não guardamos ou perdemos, mas alguns, mais especiais, guardamos como recordações daquele dia, daquele lugar, daquele momento. 
 Curiosamente, esses pequenos detalhes, perdidos ou descartados sempre nos fascinaram, são uma forma de capturar pequenos momentos no tempo, e quanto mais antigos e enigmáticos, melhor. 
Tudo começou numa feira de artigos de segunda mão, quando a vasculhar entre loiças antigas e penicos de latão, encontramos um postal dos anos 50, de uma paisagem familiar, a vista do Funchal visto de São Gonçalo, com uma muito entusiasta descrição da chegada à Madeira e de "como tudo é tão verdinho". 

Nesse momento, a ideia de que alguém escreveu aquele postal, tão longe de onde nos encontrávamos no momento, tinha enviado aquele bocadinho de papel à sua família, e anos depois, alguém colocou aquele momento à venda numa caixa de sapatos com tantos outros momentos prendeu-nos, afectou-nos e foi obrigatório levá-lo connosco. 
Hoje é uma pequena colecção, uma caixa que aos poucos se vai enchendo. A família, ao conhecer esta nova paixão, permite vasculhar nos caixotes de coisas que parecem desinteressantes e cheias de pó, e cada achado é um tesouro, como uma fotografia da prima americana que pilotava aviões nos anos 40, ou um postal  com artistas de cinema mudo, que ninguém sabe quem comprou ou enviou...
Sim, há quem ache estranho, especialmente quando se trata de desconhecidos, guardar uma carta ou fotografia de quem não se conhece pode parecer um pouco intrusivo, mas pensamos que mesmo que estejamos a guardar aquele bocado de papel, por motivos de curiosidade (ou porque veio de Paris, ou porque tem 100 anos, ou outro motivo qualquer)estamos a guardar  e a recordar aquele momento. 
E não estamos sozinhas, com este movimento retro muito em voga  no momento, basta-nos digitar Ephemera no google, e encontramos muitos entusiastas desta ideia de guardar o que os outros um dia descartaram ou perderam.
Para terminar... um fabuloso filme do qual apenas existe uma cópia : a primeira Alice no País das Maravilhas, de 1903... deliciously vintage!

3 comentários:

Kelly disse...

Eu apoio a 100% e entendo-o muito bem, ou não fosse eu uma recolectora nata...lol

A Madeirense disse...

Por acaso, devido ao meu trabalho, estive estes dias a ver antigos postais com imagens da Madeira no Arquivo Regional. E encontrei vários postais assim, com mensagens à família sobre a Madeira e o costumeiro "Wish you were here".
É realmente curioso.

PetitPlaisir disse...

É muito curioso, e passamos a vida a perguntar como se perderam esses postais, como vão parar a feiras e a arquivos de pessoas que não têm nada a ver com o destinatário...

E Kelly,obrigada por não achares que somos umas esquisitóides :P
Beijinhos!