quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Jane Austen

Há coisas que parece que gostamos desde sempre...
Coisas que sentimos ser tão nossas que não nos lembramos quando começamos a gostar delas, e que não imaginamos como seria não gostar...
É assim a nossa paixão pela obra de Jane Austen. Uma mulher fora do seu tempo, refugiada numa Inglaterra rural, de costumes e de tradições, em finais do século 18 com uma capacidade única: a de transformar a mais mundana das histórias em algo clássico e transversal até aos nossos dias.

Para quem nunca leu Jane Austen, recomendamos que vá prevenido... não há magia, nem poções, não há vampiros, não há corpetes a serem arrancados, nem vozes alteradas.
Há o apelo dos gestos, o gosto pelos detalhes, há romances inteiros a passarem nas cabeças das personagens, há o amor pelo campo e muitas intrigas corriqueiras. Mas algo que soa verdadeiramente aborrecido e um pouco poeirento tem tanto interesse hoje, como há duzentos anos atrás... porque os livros de Austen falam das delicadas teias que unem as pessoas, das linhas traçadas para as reunir, das malditas coincidências que fazem as histórias cativantes, e isso será sempre interessante.

Jane Austen é ainda actualmente um nome proeminente e não caído no esquecimento, como muitos seus contemporâneos graças às suas personagens femininas fortes e quase fora do seu tempo, mulheres tão presas a tradições como a própria autora, que assinava os seus livros simplesmente sob o título de "a lady", mas que se recusavam a encaixar em todos os preceitos do que lhes eram exigidos.
Uma das nossas favoritas é Lizzie, de Orgulho e Preconceito, que dizem ser uma personagem muito semelhante à autora, que num acto de rebeldia para a altura, se recusa a um casamento de conveniência e pretende ser solteira e orgulhosa disso... o que numa Inglaterra Eduardiana, seria um acto impensável, dado que as mulheres não podiam possuir propriedades por mérito próprio, apenas através de afiliação ou casamento...

Mas que acaba por conhecer um homem que a surpreende e inicia-se o mito do Mr Darcy, (que inspirou histórias contemporâneas como o Diário de Bridget Jones) um homem em constante conflito interior, magoado e sombrio, que esconde uma devoção pela heroína do livro, que como em todos os livros de Austen, não o percebe até um momento de dramática revelação...


Noutro ponto do espectro, adoramos também a personagem de Emma Woodhouse, da obra Emma, que é uma fantasia cómica alusiva ao desespero que era para uma jovem mulher, no tempo da autora, arranjar um marido conveniente.

Uma personagem tão centrada no bem dos que a rodeiam que se distancia cada vez mais de si mesma e dos seus desejos... recomendamos o filme com Gwinneth Paltrow, que capta de forma deliciosa os momentos hilariantes e desconfortáveis do livro.
Por último, outra das nossas personagens favoritas é Fanny Price, de Mansfield Park, uma heroína menos famosa e menos querida pelos fãs de Austen, mas que adoramos pela sua capacidade de ler os outros de forma extremamente correcta, e pelo facto de ser um dos poucos retratos da pobreza das obras de Jane Austen, que normalmente decorrem em mansões e grandes salões de baile.

Quanto ao fim de Fanny e de tantas outras personagens de Jane Austen?
Encontram todas o amor, e um final de conto de fadas, o que numa feminista que não o sabia ser, não deixa de ser curioso.
A autora parece querer recompensar todo o esforço de ser uma mulher fora das convenções da altura, com o mais feliz dos finais, e no fundo, não é isso que se espera para uma personagem que se torna querida?
Será esse um dos segredos da intemporalidade da sua obra...o nosso desejo de um final feliz?

1 comentário:

A disse...

Gostei especialmente da série "Orgulho e Preconceito" da BBC de 1995. Na altura era criança mas apaixonei-me mesmo antes de ler o livro. A actriz que fazia de Lizzie (Jennifer Ehle ) estava perfeita no papel. E o Colin Firth é sem dúvidas "O" Mr Darcy!